“#AdiaEnem”, pedem os estudantes nas redes sociais. O apelo tem ficado mais forte ao passo em que cresce a insistência do governo em não adiar as datas de aplicação das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), marcadas para 11 e 18 de outubro (digitais) e 1 e 8 de novembro (impressas). Um abaixo-assinado que reforça o coro do pedido de adiamento do exame aumentou em 660% o total de pessoas engajadas apenas na última semana.
A petição foi aberta pela estudante Elisa Teixeira, de 20 anos, na Change.org. Segundo dados da plataforma, até a última sexta-feira, 8, o abaixo-assinado contava com um volume de 26 mil apoiadores. Já no final da tarde desta quinta (14) a quantidade de assinaturas chegava perto de 200 mil, o que representa um aumento gigantesco de 660%.
Nesta quarta-feira (13), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um pedido feito pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) para adiar a data do exame. A negativa pode ter sido uma das motivações para o aumento da petição nas últimas 24 horas, período em que 13,4 mil pessoas se juntaram a ela.
Na decisão provisória, o ministro Gurgel de Faria alegou não ser da competência do STJ a análise da solicitação, já que ela não cita atos assinados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, mas apenas o edital do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Cabe à Corte processar e julgar mandados de segurança contra atos do próprio tribunal, de ministros de Estado e comandantes das Forças Armadas.
Para a autora do abaixo-assinado, há uma indignação geral dos vestibulandos para com a manutenção nas datas do exame. A jovem, assim como entidades estudantis que também se mobilizam pelo adiamento das provas, acredita que o modelo de educação a distância (EAD), imposto pela pandemia, desequipara ainda mais o nível educacional dos alunos do país, visto que muitos não têm acesso a internet ou recursos de tecnologia para estudar em casa.
“Senhor Abraham Weintraub, seu dever como ministro da educação é promover a igualdade educacional por meio da equidade, é lutar para que num país tão desigual, haja meios suficientes para que um estudante que se submeta às escolas de domínio federal, estadual e municipal, tenha tanta capacidade quanto os estudantes de redes privadas. Se isso não é de seu entendimento, pelo bem do país, abandone seu cargo o quanto antes”, dispara.
Elisa mora em Belo Horizonte (MG) e deseja prestar o Enem para, com a nota do exame, conseguir ingressar no curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A jovem estudou em escola privada e hoje faz cursinho pré-vestibular, o que não a impediu de se solidarizar com os estudantes que encaram uma realidade bem diferente da sua. Ciente dos privilégios, decidiu lançar o abaixo-assinado pedindo que todos os estudantes tenham igualdade de ensino e condições de preparação para realizar a prova.
“Mesmo diante da paralisação do nosso sistema de ensino, o Ministério da Educação, não se importando com os alunos que estão sendo lesados, manteve as datas das provas. Consequentemente, motivada a lutar contra essa injustiça, criei um abaixo-assinado visando ao adiamento do Enem”, conta. Para ela, a proporção que a petição ganhou revela “tamanha força e grandeza do movimento estudantil nesse momento tão delicado, incerto e doloroso”, diz.
#15M
Nesta sexta-feira (15), alunos e entidades estudantis preparam uma grande mobilização nas redes sociais para pedir o #AdiaEnem. A ação, denominada como #15M, pretende lançar o Dia Nacional pelo Adiamento do Enem e irá contar com um “tsunami de comentários” nas redes sociais do MEC com a hashtag, lives das entidades sobre a causa, além de um “twittaço”.
Elisa denuncia que o perfil @adiaenem, que os estudantes criaram nas redes sociais, chegou a ser bloqueado pelo ministro da Educação, bem como a conta de alguns alunos que pediam o adiamento da prova. “Tivemos que lidar com a tentativa do ministro de nos calar, visto que esse bloqueou, nas redes sociais, nosso perfil @adiaenem”, comenta a jovem.
A equipe da Change.org entrou em contato com o Ministério da Educação para cobrar uma resposta ao abaixo-assinado e saber se o ministro Abraham Weintraub irá avaliar o pedido dos jovens para reagendar o exame. A pasta, entretanto, repassou o questionamento ao Inep. A autarquia, por sua vez, não respondeu as cobranças até o fechamento desta matéria.
Movimento de enfrentamento ao coronavírus
Próximo de alcançar 200 mil apoiadores, o abaixo-assinado criado por Elisa é o quinto que mais tem mobilizado os brasileiros em causas relacionadas à pandemia do novo coronavírus. A petição faz parte de um movimento criado pela plataforma Change.org para dar mais visibilidade a campanhas que buscam soluções a problemas gerados pela crise.
A organização ainda lançou uma campanha para oferecer o instrumento da petição online como meio de participação cidadã nesta época de isolamento social, em que as pessoas não podem sair às ruas para se mobilizar. A ação, chamada de “Lute Em Casa”, exibe diversas mobilizações que estão sendo abraçadas por diferentes setores da sociedade nesta pandemia.
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