Antes de começar a lista, quero propor um exercício. Pare e pense: quantas personagens gordas, protagonistas e com vidas interessantes e/ou invejáveis você já encontrou em livros?
Pra mudar isso, fizemos esta lista com 10 livros que se você ainda não leu, vai querer ler imediatamente. Eles foram escritos por mulheres gordas, ou por mulheres que pesquisam e falam sobre corpo, alimentação e resistência.
1. A Gorda, de Isabela Figueiredo
Escrito pela moçambicana que vive em Portugal, Isabela Figueiredo, o romance é uma sátira a respeito da auto-imagem e do preconceito. Com recursos da autoficção, a autora publicada no Brasil pela todavia em 2018 nos apresenta Maria Luísa, protagonista desta história, que é ao mesmo tempo, engraçada e cruel. A protagonista é uma moça inteligente, estudiosa, boa filha e dona de uma personalidade forte. Até aí, tudo bem. Mas ela é gorda. E essa característica a leva por rumos que ela não esperava. Os relacionamentos, a família, o trabalho, sua relação com o mundo e o amor funcionam sob esta perspectiva. No corpo gordo, a personagem aguenta, com resignação, as piadas, insultos e incômodos por ser gorda. Mas, a história nos traz também redenção, o corpo como casa, o corpo que não cabe no papel, na sociedade, no amor. E ainda sim, existe.
2. Fome, a autobiografia do (meu) corpo, de Roxane Gay
Narrado em primeira pessoa, o livro conta a história da (Má) feminista, negra, descendente de haitianos que se tornou autora best-seller, publicada no Brasil pela Globo Livros, após sofrer um abuso sexual aos 12 anos e passou a utilizar seu próprio corpo como esconderijo contra os seus piores medos. Para afastar os olhares alheios e o desejo masculino, passou a comer compulsivamente. Na comida, encontrou o alento necessário para tentar esquecer o que tinha acontecido. Roxane escondeu o estupro coletivo sofrido por anos. Mais precisamente, até conceber o livro, que não é uma narrativa bem-sucedida sobre perda de peso. É a narrativa de uma mulher gorda, que é bem sucedida. Engraçada, impetuosa e bem-humorada, ela é também uma potência, que marca o tempo em que vivemos. A obra é dolorosa, mas é também ousada e arrebatadora.
3. Fominismo, de Nora Bouazzouni
Escrito pela jornalista francesa Nora Bouazzouni, o livro recém-lançado no Brasil, com tradução de Fernanda Marçolla, pela Quintal Edições, traz ensaios sobre corpo, alimentação, patriarcado e feminismo. E a junção disso tudo, à mesa. As discussões propostas pela autora são bastante atuais para o Brasil, a obra disseca as muitas relações entre sexismo e comida. Uma das questões é: se lugar de mulher é na cozinha, por quê mais de 90% dos cheffs são homens? Movida por inúmeras perguntas que passam por tarefas domésticas, agricultura, meio ambiente, body shaming, Nora acredita que a comida serve para manter as mulheres no lugar que lhes foi designado há milênios: o da subserviência e através do livro tenta explicar como comida, sexo e gênero estão ligados e como a alimentação sempre possibilitou o subjugo das mulheres.
4. Não Sou Exposição, de Paola Altheia
Com origem no blog e no canal de mesmo nome, o livro da nutricionista Paola Altheia, é, no mínimo, polêmico, uma vez que ela se posiciona contra as dietas e acredita que são elas as responsáveis por boa parte dos problemas de saúde e dilemas com a balança. Inspirada por estudos e vivências em consultório, Paola, publicada pela Quintal Edições, conduz o leitor ao entendimento da absurdidade de diferentes situações que se dissolveram em momentos diários, passando a ser parte da regra e da “normalidade”. De acordo com ela, controlar os corpos femininos, em pequenos – e grandes – detalhes, é uma trama enredada em lucro e poder. E, através da obra, propõe estratégias de luta contra esse sistema.
6. O mito da beleza, de Naomi Wolf
Com o subtítulo “como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres”, o livro da jornalista Naomi Wolf, publicado no Brasil pela editora Record e traduzido por Waldéa Barcellos tornou-se um clássico – haja vista que a primeira edição no país é datada de 1991 – que nos traz uma nova visão a respeito da relação entre beleza e identidade feminina. De acordo com ela, o culto à beleza e à juventude é estimulado pelo patriarcado e atua como mecanismo de controle social, a fim de evitar que as mulheres sem empoderem e sejam livres de maneira intelectual, sexual e econômica.
Com a obra, a jornalista confronta a indústria da beleza, a representação opressora da mulher na literatura e na mídia, nas relações entre gêneros e toca em assuntos espinhosos, como distúrbios alimentares, mentais e ainda o desenvolvimento da indústria da cirurgia plástica e da pornografia.
7. Poder Extra G, de Thati Machado
Campeã de acessos na plataforma Wattpad, a história da Ninca – e do Nico, da Marcela e do Noah viralizou e se tornou o livro “Poder Extra G”, escrito pela carioca Thati Machado. Uma história empoderadora, um Young Adult que nos apresenta a personagem de 92 kg, cheia de amor próprio, atitude e carisma. Publicado pela Astral Cultural, o subtítulo dá conta da história “o amor pode ter muitas curvas”, e esse romance ambientado em Buenos Aires é delicioso. Quer esquecer tudo? os problemas? A opressão? A não aceitação do corpo? A dica é mergulhar na história da Nina, que no país dos hermanos, descobre que a viagem pode lhe render muito mais do que uns quilinhos extras.
8. Amor Plus Size, de Larissa Siriani
A aposta da jovem autora em um tema pra lá de relevante é notável. O livro de Larissa, publicado pela Versus Editora, já denuncia, no título, a que veio. Trata de amor. E trata de uma adolescente gorda. Mais um Young Adult pra lista, que mostra Maitê, uma jovem de 17 anos, mais de 100 kg e uma jornada incrível de autoconhecimento, aceitação e empoderamento, enquanto descobre seu lugar no mundo, após passar a infância e parte da adolescência sendo resumida pelo peso e é justamente este fator que muda completamente a vida dela, quando ela encontra Isaac. E mais, só lendo o livro para saber. Mas, uma dica pode ser dada: a personagem central descobre que não precisa ser igual a todas as outras mulheres para ser feliz.
9. Gabyanna Negra & Gorda
Mais uma autoficção entra para esta lista. O livro de Gabriela Rocha, com ilustrações de Airá OCrespo traz as aventuras de uma mulher negra e gorda que sonha burlar as estatísticas da solidão de quem possui estas características. Apesar de todas as dificuldades, nãos e traições, ela não desiste de buscar alguém para viver um relacionamento amoroso. Pelas páginas do livro, acompanho inúmeros encontros, viagens, festas, baladas, situações divertidas e românticas com Gabyanna, mas não há qualquer tipo de resposta. Não sabemos o que a faz viver em busca, mas não encontrar alguém com quem dividir a vida, mas entendemos que o fato de ser negra e gorda contribuem para isso. Na obra, enquanto a vida de Gabyanna no Rio de Janeiro está parada, ela recebe uma proposta para se mudar para Oslo, na Noruega e acaba aceitando trocar os 40 graus do Rio de Janeiro pelas temperaturas negativas do país nórdico e o leitor é levado, com ela, a encarar esta nova etapa, num livro que é extremamente divertido, apesar de tocar em assuntos polêmicos como racismo, gordofobia e sexualidade.
10. Dumplin´, de Julie Morphy
Com um filme homônimo recém-estreado na Netflix, este livro publicado no Brasil pela editora Valentina é tudo que esperamos de uma obra que trata de mulheres gordas. Nos vemos diante de uma protagonista jovem, destemida e inesquecível, que se empodera, mesmo após sofrer bullying e ter uma relação absurdamente tóxica com a mãe. O resultado é a autoaceitação, num clima de Young Adult de sessão da tarde, mas que torna-se inesquecível, com a Willowdean Dickson, apelidada de Dumplin´ (bolinho de massa, em tradução livre) pela mãe, uma ex-miss incapaz de largar a obsessão pelo corpo, pela magreza e pela aceitação da sociedade. Em companhia da melhor amiga, a Ellen, a protagonista é divertida e vive situações bastante interessantes na rede de fast-food onde trabalham, com o garoto por quem se apaixona e um concurso de Miss Jovem Flor do Texas, que ela participa com amigas fora do padrão, mostrando ao mundo que adolescentes gordas são lindas e talentosas. A obra é um emaranhado de autoestima que não nos faz querer largar.
Que tal? Já é um excelente começo para desconstruir muita coisa sobre gordofobia, pressão estética e padrões. Boa leitura.